sábado, 10 de março de 2012

folhas do diário gráfico

algures numas folhas de um dos meus diários gráficos (palavras também contam como grafismos, não me contrariem) dizia eu:
       "Há quanto tempo, velho "Diário"! Parece que acabou o ano da loucura, e lá venho eu a correr para as tuas folhas. Sinto-me quase tão hipócrita como alguém que reza porque a vida lhe corre mal, e quer pedir que lhe corra melhor, prometendo qualquer coisa em troca. A diferença é que não está escrito em lado algum que devemos ser fieis, ou tão pouco ter alguma moralidade, ou bom senso, para com os nossos diários. Menos mal. Aliás, até acho que vocês diários, ou folhas de papel, ficam a lucrar imenso com a nossa desgraça. Mas isso é outra conversa.
       Queria que a escrita me ajudasse a responder a esta dúvida - porque é que músicas, sem letra, doem e quase fazem chorar? Não era suposto serem só notas, umas frequências quaisquer que a ciência reduz a ondas sonoras? (é isto que me apaixona pela música.) Porque é que tocar neste misero teclado, que desde pequena me ensinaram a chamar-lhe piano, onde não posso fazer crescendos ou diminuendos, escolher entre tocar mezzo forte ou pianissimo; onde sou obrigada a tocar notas sem expressão, e mesmo assim, o som produzido quase me faz chorar? Porquê? Será que realmente os intervalos entre as notas, sendo maiores ou menores, se associam, respectivamente, a estados de felicidade ou de infelicidade? Nesse caso não poderemos concluir que, ao ouvirmos uma música, estamos a deixar o nosso estado de espírito nas mãos de um compositor, ao qual neste momento só me apetece chamar-lhe "manipulador de almas"? (Desculpe-me Bach.) Eles têm de facto uma grande arma nas mãos, e ao que parece, a sociedade gosta de lhas providenciar  porque cria escolas de música, ou deverei dizer: escolas de manipulação humana ao mais alto nível de inocência!  Instituições essas onde eles aprendem a dizer que fazem aquilo por amor, enquanto são hipnotizados (os alunos) por quem também já se deixou levar em tempos (os professores). Malditos. E contra mim falo. Mas eles só nos levam até ao mundo deles, sem ninguém lhes pedir, deixam-nos bem confortáveis, e fazem-nos sentir, sentir só, o que quer que seja. 

          Até os mais cépticos têm de concordar, há qualquer coisa na música que nunca vamos poder conhecer, mensurar ou dominar. Ela é um meio de comunicação terrivelmente forte, e nós nunca nos apercebemos disso. Há qualquer coisa nela.


          Eu odeio, com todas as forças, não estar sobre o controlo do descontrolo, mas na música eu confio (desconfiando), e continuo a tocar (com a esperança de perceber onde me leva), e a conhecer-me melhor.